quinta-feira, 10 de agosto de 2017

Farofeiro também é gente

Por Ercio Bemerguy
Na terça-feira, entrevistada por um repórter de televisão, uma socialite declarou: “Salinas, neste carnaval, está bombando! Muita gente bonita curte as praias e a folia momesca com muita alegria e muita paz. Só não estou gostando do número excessivo de pessoas que levam para as praias panelas com frango, farofa, feijão e peixe frito, além de churrasqueira para assar carne. E o som brega rola bem alto. Que horror!”

Eu, Ercio, não canso de dizer que, reclamar da presença de gente pobre, dos “farofeiros”, nas praias ou em quaisquer outros lugares públicos, é uma tremenda injustiça, ou melhor, é pura “frescura”. Eu acho que as belezas e os prazeres oferecidos pela natureza não devem ser privilégios dos ricos, famosos e “bacanas”. Portanto, vai lá “mermão”, porque a praia é tua, é teu o paraíso! Mas não esquece de tomar por mim uma “pura”, de preferência a 51, tirando o gosto com jabá e depois arrota o teu desprezo e a tua justa indignação contra aqueles e aquelas que insistem em te discriminar.
 
O importante é ser feliz...

Ser livre, ser feliz

Por: Ercio Bemerguy
No Senadinho do Clube do Remo, ouvi a conversa travada entre dois amigos já idosos, daqueles que a juventude dourada e sarada, considera “quadrados”. Um deles, demonstrando indignação, dizia: “Ontem, assisti em DVD pirata o filme ´Cazuza`, que mostra lances da vida desse famoso e polêmico cantor e compositor. Na capa consta uma sugestiva chamada publicitária que eu até decorei: ´Você verá, nesta fita, um belo exemplo de vida de um jovem que se propôs a vencer todos os preconceitos, todas as barreiras, para viver livre, totalmente livre e feliz`. Égua! Que exemplo chocante! Era um rapaz talentoso, sim, porém, era contumaz usuário de todo tipo de drogas, bebidas alcoólicas, completamente irresponsável, completamente louco, inclusive preferia a companhia de homens, com os quais transava abertamente, beijando-os na boca, enfim, se entregando aos vícios mais absurdos, causadores da sua prematura morte.” E prosseguiu: “Para que tenhas uma idéia do comportamento escrachado desse tal Cazuza, em uma das cenas do filme ele manda a mãe dele ´tomar no c...` e o pai pra ´p...que pariu` Legal, né? Quem quiser ter um filho assim e só mandar o ´garoto` assistir esse filme. Ele ficará motivado, prontinho para entrar na onda da mais completa depravação e sacanagem” .
Eu, que raramente vou ao cinema ou assisto filme em casa, fiquei curioso, e, então, pedi ao feroz crítico que contasse mais detalhes sobre a fita, porém, apressado e já engolindo rápidamente a ´saideira`, despediu-se dizendo a todos: “Por hoje, The End, fui.” Coincidentemente, naquele instante, no som ambiente da sede do “Mais Querido”, ouvia-se a voz de Cazuza interpretando uma das suas inteligentes composições: “(...) o tempo não pára/ não pára não, não pára./ Te chamam de ladrão, de bicha, maconheiro/ transformam um país inteiro num puteiro/ pois assim se ganha mais dinheiro./ A tua piscina está cheia de ratos/ tuas idéiais não correspondem aos fatos/ o tempo não pára...”Aliás, sobre Cazuza, guardo na lembrança uma frase que ele usou por ocasião de uma entrevista que concedeu à Marília Gabriela: “A única perfeição da vida é a alegria”. Gosto de ouvir as suas músicas e considero que ele, com o seu jeito irreverente exerceu o seu direito democrático de ser diferente. Grande Cazuza!

quarta-feira, 9 de agosto de 2017

Programas de auditório (I)

Osmar Simões - o criador do "Domingo Após a Missa"
Osmar e Ercio
Ercio apresentando o programa

Um sobrinho meu, muito jovem ainda, me pede de vez em quando para eu contar como era o programa “E-29 Show” que, segundo ouviu falar, por muito tempo foi sucesso em Santarém. Esta curiosidade talvez seja, também, de muita gente que naquela época ainda engatinhava ou nem era ainda nascida.

Esclareço que, o que passarei a contar aqui (em 3 capítulos), é fruto da minha memória, portanto, a omissão ou incorreção de datas, nomes de pessoas ou de detalhes relativos ao referido programa, desde já peço desculpas, ficando à disposição de quem, porventura, desejar corrigir ou acrescentar algo sobre o assunto.

Em 1966, Osmar Simões, locutor e dirigente - Diretor Artístico - da então Rádio Educadora de Santarém (hoje, Rádio Rural), foi quem idealizou, criou e apresentou o primeiro programa de auditório da emissora - o “Domingo Após a Missa”. Por que esta denominação? Na Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição, aos domingos, com grande afluência de católicos, era celebrada a missa das 8h transmitida ao vivo pela rádio e cujo encerramento acontecia por volta das 9:30h. Prevendo que o programa poderia atrair a presença de grande parte das pessoas - adultos e crianças - que freqüentavam a igreja, Osmar, de forma inteligente e criativa o denominou “Domingo Após a Missa”, para ser apresentado de 10:30 às 12hs, com transmissão feita diretamente da Casa Cristo Rei, localizada na travessa dos Mártires, em frente ao prédio onde funcionavam o estúdio e o escritório comercial da emissora.

A Casa Cristo Rei foi o local escolhido por ser de propriedade da Prelazia de Santarém, dona também da Rádio Educadora, e porque tinha capacidade para acomodar, sentados em cadeiras de madeira, desconfortáveis, é bom frisar, 200 espectadores, e, em pé nas laterais do salão e no mezanino, aproximadamente mais 100.

O sucesso era sempre crescente, com casa cheia, pois os ingressos eram colocados à venda por preços baixos e a renda auferida era destinada ao pagamento do pessoal envolvido, incluindo-se o conjunto que fazia o acompanhamento musical nos ensaios e nas apresentações dos cantores e das cantoras participantes.

Como era produzida esta grande atração da Rádio Rural? Tudo era muito simples, sem necessidade, como acontece atualmente, de equipes específicas de produção, de direção, etc. Durante a semana, a emissora anunciava na sua programação diária, que em determinado dia e horário, no “Cristo Rei”, seria feita a inscrição e ensaio de cantores, cantoras, instrumentistas e grupos musicais, de todas as idades e, os que fossem selecionados, participariam do “Domingo Após a Missa”.

No decorrer do programa, o próprio público, através de aplausos escolhia os melhores calouros - adultos e crianças -, aos quais eram ofertados brindes. Sempre surgiam verdadeiros fenômenos que caiam no gosto do povo, como, por exemplo, a garotinha Shirley Lima, com 10 anos de idade, era considerada uma verdadeira estrela-mirim, possuidora de uma voz belíssima e desenvoltura admirável no palco. Entre os adultos, destacavam-se a Fátima Oliveira, a Leneide Bastos, o Ray Brito, o Luiz de Assis, o então seminarista Teddy Max que se tornou cantor profissional famoso, e que faleceu no ano passado, e muitos outros.

A maior dificuldade para os encarregados da parte técnica, era a de encontrar os meios para proporcionar uma boa qualidade de som no ambiente interno da Casa Cristo Rei, com alto-falantes instalados no auditório e imensos aparelhos para possibilitar a transmissão do programa pela Rádio Educadora. Mas, tudo era resolvido com as “gambiarras” e os emaranhados de fios elétricos espalhados por toda parte e outras improvisações tecnológicas feitas pelo saudoso Djalma Serique, pelo José Maria e pelo genial Fernando Guarany. Graças a eles, do começo ao fim das apresentações, tudo funcionava satisfatoriamente.

Decorridos alguns meses de existência do programa, o Osmar Simões convidou-me para ser o seu parceiro. Aceitei o desafio. À princípio, eu era incumbido apenas da leitura de textos publicitários dos nossos patrocinadores. Decorrido pouco tempo, já devidamente familiarizado com o ambiente do palco e da platéia, passei a apresentar as atrações, intercalando esta tarefa com o Osmar e, às vezes, quando ocorria a ausência dele, eu atuava sozinho. Após um ano, o Osmar Simões, por falta de disponibilidade de tempo, resolveu afastar-se definitivamente do “Domingo Após a Missa”, pois além de apresentar na Rádio Educadora o programa “Tribuna Popular” (crônicas sobre assuntos da cidade) e as narrações e comentários de jogos de futebol, era gerente da agência local da Caixa Econômica Federal.
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SANTARÉM: E por falar em saudade, TE LEMBRAS?

Autor: Ercio Bemerguy
Era uma bela manhã ensolarada de domingo, mês de julho de 2004. Eu estava na praia de Alter do Chão acomodado em uma das mesas da barraca “Ventania”, aguardando, para o almoço, o preparo de um tambaqui assado na brasa. De repente, a grata surpresa: vi chegarem três velhos e bons amigos, todos eles meus parceiros de memoráveis andanças pelas festas e bares nas noites enluaradas e madrugadas santarenas, quando éramos jovens e solteiros, sem perigo e sem receio de sermos atacados por gangues, pivetes ou drogados, como infelizmente hoje acontece.

Após os abraços e sorrisos que expressavam a celebração e a alegria daquele reencontro, iniciamos um bate-papo, bebericando “caipirosca”, tirando o gosto com bolinhos de piracuí. Fatos e pessoas “daquele tempo” foram boiando de nossas memórias, desnudando a saudade, decantando o tempo e fazendo-nos indagar um ao outro: tu lembras? Por exemplo: lembras das rondas policiais noturnas feitas pelo austero comissário Avelino Almeida e, durante o dia, o preto Brejão impedindo a algazarra da molecada? Lembras do Tiro de Guerra 190, comandado pelos tenentes Liberalino e Assis e sargentos Damasceno e Bittencourt?

Sem a mínima intenção de invadir a seara dos historiadores, resolvi registrar aqui, um pouco de tudo aquilo que recordamos naquela reunião de amigos, para que os jovens de hoje saibam por que os seus pais e avós sentem saudade de Santarém de outrora.
Como um teste, cuja matéria escolhida é a saudade, eu pergunto: LEMBRAS?...

-da ZYR-9 Rádio Clube de Santarém (hoje, Rádio Ponta Negra) com programas apresentados pelo Orlando Borba, Argemiro Imbiriba, Eduardo Ferreira, Ruth Santos, Rosivaldo, João Silvio Gonçalves e Pitágoras Almeida ("A Hora da Onça Beber Água")?

-das Escolas de Samba “Ases do Samba” (comandada pelo Paulo Lisboa, Renato Sussuarana e Laurimar Leal) e “Chapeuzinho Vermelho” (do Sete, dos médicos Osires e Telmo e outros)?

-da Casa de Saúde São Sebastião, do médico Waldemar Pena, onde trabalhavam o doutor Aloisio Melo e o laboratorista Phebus Dourado?

-da Policlínica Santo Antônio, dos médicos Alfredo Machado e Lucivaldo Figueira Tapajós?

-do serviço de propaganda sonora (alto-falante) “Ypiranga”, do Moacir Miranda, com locução de Cesar e Elza Sarmento?

-do “Jornal de Santarém”, dos irmãos Polaco e Arbelo, com crônicas escritas pela professora Antonieta Dolores Teixeira e coluna social do Wilson Fona?
Mais aqui>Santarém: Te lembras?